O telefone não toca. Não mesmo. Ninguém me liga para me propor algo extraordinário para sexta à noite porque sabe que eu vou desconversar e não irei. Sair do meu mundinho me custa muito, pois sou extremamente carente de segurança e por isso acredito que permanecer em minha casca seja mais conveniente. Tenho curiosidade em saber a sensação de ser requisitado, o que não quer dizer que eu seja desprovida de pessoas que me solicitam, mas são solicitações específicas, que dependem da companhia, do lugar e do meu estado de espírito. Praticamente preciso de convite impresso para sair, onde conste data, hora, local e traje.
Tenho poucas amigas, mas são de longas datas e que moram a 2 minutos da minha casa. O nosso programa preferido é estarmos juntas e falarmos sobre as nossas novidades, comentar algo interessante, pretensões futuras e acabarmos sempre nos mesmos assuntos de sempre. É gostoso, pois daqui a algum tempo iremos comparar e relembrar de tudo o que planejamos. Nessa de imaginar como poderia ser a nossa vida no futuro, percebo que estamos deixando de vivenciar o presente e aproveitar o que um dia nos fará falta, a juventude. Só que optamos por aproveitar sem encher a cara, nem virar madrugadas em claro e nem criar um filho com pouca idade.Somos privilegiadas, temos a chance de escolher.
Queremos tudo e ao mesmo tempo nada. Eu quero estabilidade, Nina almeja um amor, Soraia aprimorar os estudos e Anita um emprego mais rentável. Mas concluímos que cada coisa vem com o tempo, porém temos a impressão de que não virá. Eu sei, eu sei... trata-se de apenas ansiedade de 20 de poucos anos. Nós crescemos, não somos mais aquelas que um dia brincavam de Barbie e de Pique sem preocupações, estamos em busca do que não conhecemos e que por receio, nem sempre nos permitimos conhecer. Nos impomos os nossos limites e agora é mais conveniente (con)viver com eles. Temos saído mais e combinado menos, vivendo mais e nos preocupado menos, nos arriscando mais e planejado menos. E isso tem sido uma experiência maravilhosa, um passo adiante mesmo.
Mas sinceramente, desejo que daqui a um tempo o meu telefone toque mais a noite, mas que seja para ser convidada para o casório da Nina. E que eu receba uma mensagem de sms da Soraia onde ela me noticie a sua classificação num cargo público ou quem sabe um email da Anita de madrugada propondo que marquemos uma viagem entre amigas para celebrar as nossas conquistas, mas tudo por conta dela, é claro, afinal ela até lá terá um emprego bem remunerado e poderá pagar as despesas sem preocupações. Ah, eu? Eu serei a pessoa mais feliz do mundo por ter acompanhado cada uma delas chegar aonde chegaram.
O nosso destino vai mudar, talvez nem vamos morar na mesma rua e não será possível pedir açúcar a elas quando eu precisar. Não vai ter ninguém para opinar se meu vestido novo combina com o par de brincos que comprei, a única certeza que tenho é que a amizade que nos uniu será permanente e que em breve meus filhos serão considerados de vocês e o de vocês os meus, assim como nos prometemos. Com tudo isso, eu quis dizer que a nossa convivência pode diminuir em decorrência da rotina, da vida, do destino (...) mas o amor que dedicamos umas as outras será o que manterá a nossa amizade a mesma de 15 anos atrás.
Só que isso é para o futuro, agora irei ligar para elas - enquanto há tempo- e convidar para darmos umas gargalhadas do passado, planejarmos o futuro e VIVER o presente. É agora, go!
Nina, Anita, Soraia - [enviar]
Beijos,
Glau.
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