sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A máscara de um rosto que envolve o corpo

  
   Há mais ou menos dois anos atrás, eu não sabia a utilidade de um blush, nem imaginava onde se comprava um delineador e muito menos onde se aplicava um corretivo. Minhas amigas usavam, mas eu nunca tive a curiosidade de nem se quer aprender, pois achava aquilo supérfluo. Na verdade eu nunca tive a ousadia, não queria me atrever a ser uma coisa que eu não me achava: bonita! Então, enfrentava o mundo com a cara lavada. Com os defeitos de uma mulher que não via sentido para tanto alarde em torno da beleza. Para mim, o belo estava dentro do ser humano. Preferia acreditar que o meu intelecto me imunizaria de um mundo tomado por tendências em torno de cores que ressaltavam o rosto das mulheres.
   Pois bem, pensava que minhas amigas estavam influenciadas por uma estética mercadológica imposta pela sociedade, que dita o padrão de beleza através das mídias. Mas na verdade não queria admitir para mim mesma o quanto eu as achava lindas com aquelas maquiagens. Preferia aceitar a condição de que esse tipo de artifício não se enquadrava ao biotipo do meu rosto desapontado. Mero engano. Na realidade eu tinha a necessidade de esconder minhas imperfeições naquela máscara de beleza, pois parecia deixar as pessoas com uma aparência mais harmoniosa. Eu precisava esconder as minhas inseguranças de uma vida inteira de baixa auto-estima. Sentia o desejo de me sentir aceita por uma parcela de pessoas que valorizam a aparência da pintura da face, quando nem se quer o meu belo sorriso às comoveram. Por muitas noites fechei os meus olhos e me imaginei linda, maquiada, com cabelos mais brilhantes que o sol, com adereços que valorizavam os meus atributos físicos e com um príncipe me exibindo como uma jóia de brilhante.
   Mas uma hora eu acordei e o choque com a realidade se instalou sob meus olhos, que arregalados, pareciam não crer que era apenas uma ilusão. Eu precisava me render, porém eu ainda tinha armas para sustentar a minha resistência. Aquele conflito não tinha mais espaço em meus devaneios. Nesse momento, percebi que a batalha tinha outro rival, mal poderia imaginar quem era o mandante, ou melhor, A MANDANTE. Buscando em minhas lembranças observei que acobertei todos os meus medos atrás da comida, ela me dava o prazer instantâneo sem exigir nada em troca. Ela era o álibi para os meus pecados.
   Eu deixei de me sentir bonita por estar gorda. As minhas opções calóricas fizeram de refém a minha falta de amor próprio e nele estava o meu desejo subconsciente de realmente me sentir bonita. Então, fui emagrecendo e superando o medo do meu estojo de maquiagens, que hoje em dia se misturam com os meus apetrechos que compõem a minha nova face, mais vibrante. E eu faço questão de descrevê-la. Ela tem maçãs do rosto rosadas, olhos contornados por um lápis de olho negro, pálpebras que são pintadas de acordo com a ocasião, corretor de tom café que disfarça as noites mal dormidas e um gloss que enfeita a minha boca para ilustrar os meus mais belos sorrisos. Ainda assim o Gran finale ainda estava por vir!
   Por fim, durante um ano e meio de batalha, eu aprendi que não era eu quem precisava me render primeiro, e sim ela -a comida- que deveria se entregar para eu me libertar. E no auge da minha valentia, eu a desarmei antes que o pior acontecesse. E foi assim que me transformei de uma medíocre assaltante de geladeira em autoridade máxima da força de vontade.

Em ambas com a cara lavada, mas em uma delas está a satisfação de ter conquistado a autonomia das minhas escolhas.
Qual é a sua? 

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Na minha primeira pesagem do ano de 2011 o ponteiro marcou: 61,9 kg.
Estou seguindo, tropeçando em pedras, mas vou. Apesar dos pés calejados por saber o caminho e sempre me perder no trajeto. Mas eu o refaço. E se me perder novamente eu vou voltar de onde parei. O que eu não posso é retornar de onde vim, porque as pedras nas quais tropecei já foram muito maiores.

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Geeeente, gostaria de agradecer pelos comentários e incentivos quanto ao meu post anterior. Eu os li com muito carinho e com certeza me fizeram refletir sobre os meus próprios anseios. Obrigada, meninas!!!



Beijos,
Glau.

2 comentários:

  1. Quanto ao seu comentário no seu blog, quase chorei. Foi lindo, amei, amei e amei! OBRIGADA! Saiba que a empatia é recíproca, e vejo muito de mim em você!

    Aliás... Esse seu post poético (porque tá lindo de se ler e de pensar e tudo o mais) me fez lembrar de mim, e lá vou eu contar umas coisas pra você... hehehe

    Fui usar salto alto aos 20. Eu estava magrinha, mas achava que era frescura e que fazia mal para a saúde. Só parei de usar em 2009, pois operei o joelho e depois engordei. Aí o danado volta a doer de vez em quando... Mas já estou usando novamente, só que com menos frequencia!

    Comecei a me maquiar aos 26 anos, após o término do meu namoro de 8 anos. Até então eu achava isso aí que você pensava: supérfluo, máscara de esconder imperfeições...

    Mas aí veio a grande bomba - um senhor pé na bunda, regado a traições por parte do ser amado. E o que eu fiz? Pensei: putz, agora ou eu me amo, ou eu me amo, do jeitinho que estou!

    E aí, mesmo acima do peso, mesmo me sentindo um lixo, comecei a olhar meus grandes olhos castanhos e vi que eles mereciam uma sombra daquelas beeeem pretas (para sair à noite) e sombras marrom claro para o dia a dia. Depois percebi também que minhas unhas ficavam mais lindas com esmaltes arregalados, como azul e amarelo, já que meus dedos são longos... E isso tudo sem perder 1 grama sequer de peso!

    Enfim, quando percebemos que há tamanha beleza por detrás daquilo que chamamos de imperfeição - leia-se gordura e demais problemas - ficamos com tanta vontade de realçar essa beleza que a maquiagem vira parte do nosso dia a dia!

    Como é bom ser mulher, se respeitar e se amar, né?

    Beijos!

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  2. Oii! Obrigada pela visita! Adorei o não pagar iptu rsrrrs! Que bom que decidiu ser a MANDANTE da sua vida e preenche-la com muitas cores e brilhos! Beijos

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